A embarcação "Peixe Rei II", após arder em um incêndio de origem ministeriosa. Fonte: Infopress
Durante a madrugada da segunda-feira, 12 de maio de 2025, enquanto a maioria dos praienses ainda dormia, a embarcação "Peixe Rei II" ardia em chamas no cais de pesca da capital.
Lançado ao mar no dia 15 de abril de 2025 como o maior barco de pesca semi-industrial de Cabo Verde, o "Peixe Rei II" foi construído por um estaleiro da cidade da Praia com 14 metros de comprimento e com capacidade para armazenar 40 toneladas de pescado.
Seu lançamento foi celebrado como um feito da indústria naval nacional que contou com a presença do Ministro do Mar que defendeu a participação do governo na construção da embarcação.
Pois bem, o barco fora lançado com pompa e circunstância e ao que consta na imprensa sobre o assunto, estava passando por uma série de procedimentos necessários à sua liberação para as atividades de pesca quando um incêndio misterioso destruiu boa parte da sua estrutura.
Gostaria de pensar nesse incêndio ou no encalhe da embarcação "PaiSanto" na ilha do Maio ocorrido há algumas semanas como imagens definidoras da situação da pesca semi-industrial de Cabo Verde.
Ao longo do meu período em campo para a realização da pesquisa de doutorado, tive a oportunidade de entrevistar alguns armadores da pesca nacional e os relatos que colhi me alarmaram profundamente.
A maioria reclamou do alto custo do combustível e do gelo e me disseram que chegam a mobilizar cerca de 300 mil escudos por uma única saída ao mar e que quando não conseguem pescar, que entram em uma situação de completo desespero.
Diante das notícias do incêndio na embarcação "Peixe Rei II", logo me veio à mente a situação do dono da embarcação, do sonho naufragado de poder explorar, juntamente com as grandes embarcações estrangeiras, as águas de fora, o mar territorial do seu próprio país.
Enquanto esse tempo não vem, ou seja, enquanto os caboverdianos não conseguem o apoio necessário do governo para a constituição de uma indústria nacional que, finalmente, seja capaz de competir com os estrangeiros pelo peixe dessas ilhas, o que resta é observar o fluxo do pescado caboverdiano em direção às prateleiras dos supermercados europeus e asiáticos.
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