A cobertura da atividade pesqueira pela mídia tem uma história muito particular em Cabo Verde. Trabalhei com parte importante dessa história e a expus com certo grau detalhe ao longo da minha tese de doutorado.
Seguindo esse interesse, após a defesa da tese resolvi fazer o Observatório da Pesca do arquipélago e uma das primeiras seções do portal que realizei foi aquela que me possibilitou fazer uma espécie de “cobertura” da cobertura da mídia tratando do universo pesqueiro do país.
E aí estão, sob o título de “Pesca na Mídia”, duas seções que reúnem as matérias jornalistas sobre a atividade.
Desde o início do portal, acompanho diariamente os principais jornais do país e me deparando com alguma reportagem sobre o universo pesqueiro, produzo um documento em formato PDF da matéria e a disponibilizo no site em ordem cronológica.
Para mim que pesquisa a pesca artesanal há tantos anos, esse exercício de coleta de reportagens sobre a atividade é importante porque elas me dão uma certa medida de como os atores da pesca são percebidos pela sociedade mais ampla em termos de representação social.
Indo além dessa dimensão mais simbólica da pesca e de seus atores, esse conjunto de reportagens também me parece um bom termômetro sobre os desafios que as comunidades pesqueiras enfrentam no seu cotidiano.
Nesse sentido, é curioso perceber, por exemplo, como é alto número de matérias jornalísticas que denunciam a precariedade em que vivem pescadores e peixeiras no arquipélago.
São inúmeras as reportagens que denunciam a falta de isca, a falta de peixe, a ausência de infraestruturas como Casas de Pescadores, máquinas de gelo e um sem número de constrangimentos que atingem as comunidades pesqueiras.
A título de exemplo e levando em conta esse conjunto de reportagens, não consigo identificar outro grupo social na mídia do país tão associado a problemas como são os pescadores artesanais e peixeiras.
E nesse ponto é preciso fazer justiça à mídia caboverdiana, porque ao menos em relação aos pescadores e suas comunidades, ela consegue realizar um excelente trabalho.
Isso porque, essas reportagens deixam muito claro que os problemas retratados não são decorrentes do comportamento dos pescadores e peixeiras, mas da falta de apoio das instituições estatais à atividade.
São, por isso, matérias que ratificam o argumento de que as comunidades artesanais de pesca do arquipélago são atravessadas, cotidianamente, pelos efeitos de terem sido constituídas como um grupo social historicamente marginalizado.
Um grupo social que apesar de muito entregar para as ilhas, vive em compasso de espera por uma existência digna e por uma cidadania plena e sem arremedos no horizonte político do arquipélago independente.
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