Quando olhamos para o presente da pesca artesanal de Cabo Verde, nos deparamos com algo de extraordinário. Das dezenas de comunidades artesanais de pesca espalhadas por toda a extensão habitada do arquipélago, é possível testemunhar uma vitalidade incrível produzida por homens e mulheres do mar que com suas técnicas sustentáveis de captura, garantem trabalho, emprego, renda e dignidade para amplas parcelas das camadas populares do país.
Diferentemente dos ciclos irregulares da agricultura que se encontra submetida aos longos períodos de seca que atingem o arquipélago, nas áreas de pesca sempre é possível testemunhar pescadores e peixeiras transformando o fruto de seu trabalho em fartura e dignidade.
Explorando os grandes peixes migratórios que circulam pelas águas do arquipélago com a arte da linha de mão e em seus pequenos botes de madeira, pescadores e peixeras são respeitados e tidos como sólidas referências morais das suas comunidades.
Considerando o seu alcance territorial e a sua alta penetração no tecido social das ilhas, apesar da exíguo documentação histórica disponível sobre o passado dessa atividade, não é possível deixar de reconhecer sua antiguidade no processo de ocupação humana dessas ilhas.
Outra dimensão importante da atividade artesanal pesqueira do arquipélago, é a sua insubordinação em relação às inúmeras tentativas que fizeram e que ainda se faz no sentido de modá-la a formas supostamente mais adequadas de funcionamento. Ao resistirem contra as tentativas de desmantelamento de sua cultura marítima, essas comunidades tem sido rotuladas de atrasadas ou como se tivessem agarradas a meras atividades de subsistência.
Por detrás dessa luta de rótulos, porém, encontra-se uma disputa mais ampliada, a disputa pela principal "riqueza" existente nos mares do país que opõe o estado caboverdiano, associado com grandes players internacionais, às dezenas de comunidades artesanais pesqueiras do arquipélago.
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